Jorge Sampaio escolheu mal o dia para anunciar a sua recandidatura à presidência da República. É que em Outubro de 2000 vivia-se a febre do Big Brother e o Presidente esqueceu-se de confirmar como estavam as coisas na casa mais famosa do país. Nesse dia tinha rebentado uma bomba na novela da vida real. O escandaloso, imprevisível e chocante pontapé do concorrente Marco na cara de Sónia abriu o telejornal da TVI e só muito depois apareceu a notícia da recandidatura.
Estávamos nos tempos do reinado dos reality shows que puseram a TVI no mapa das audiências. O destino dos 14 concorrentes, fechados numa casa e cercados por câmaras de filmar, colava os portugueses à televisão. "Nunca pensei que se tornasse no fenómeno que foi e que invertesse as audiências dos canais privados. Até então, a SIC, que recusou comprar o Big Brother, era a líder", explica João Gobern, crítico de televisão. Francisco Rui Cádima, professor universitário na área do audiovisual, partilha a mesma opinião. "Foi um fenómeno esmagador e julgo que nem os produtores tinham a noção de que iam despertar até o interesse das classes altas."
Parecia ter-se encontrado uma fórmula imbatível para conquistar audiências. O Big Brother tinha sexo, intriga, conflitos e alguma violência. Tudo mascarado pelo manto da verdade. "Eu não estou a jogar, sou eu próprio", era a frase mais ouvida. "Era um novo género de televisão. Com que frequência isso acontece na literatura ou na música? Isso atraiu as pessoas, assim como o voyerismo e a capacidade de identificação. As pessoas mediam-se pelo que os concorrentes faziam, quer concordassem ou repudiassem", diz Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão, ao i. Mas a notícia de que o Big Brother (BB) vai acabar no Reino Unido levanta uma questão: o público fartou-se dos reality shows? O Channel 4 não vai renovar o contrato com a Endemol, porque o número de espectadores passou de 10 milhões para 2 milhões.
Em Portugal, o cansaço da telenovela da vida real chegou mais cedo. Tivemos quatro Big Brothers , dois BB famosos e fechamos o ciclo em 2003. "A televisão portuguesa é sui generis. Somos mais conservadores, por isso os nossos BB nunca foram tão chocantes como os internacionais", defende Rui Cádima. Mas João Gobern alerta que se trata de uma moda. "Os reality-shows vão voltar, são apenas umas férias. A televisão passa por modas, esta é mais uma. Mas penso que houve um repúdio por parte dos espectadores de algumas aventuras excessivas." Os reality shows apareceram na televisão europeia há dez anos e mudaram-na para sempre. Houve strips, cenas de sexo, discussões, intrigas e violência. Mas o pior de tudo, diz Gobern, foram as conversas. "O que me assustou mais foi a redução ao nível zero dos diálogos e a falta de valores. Transmitia-se o pior que nós temos. " O iseleccionou dez escândalos que ficaram para a história.
1. Pontapé do Marco A discussão estava acesa. A troca de acusações entre os dois concorrentes do primeiro Big Brother português, Marco e Sónia, não era um momento raro, mas nada fazia prever o que ia acontecer a seguir. Sónia soltou a frase: "Vai para a puta que te pariu." Marco, professor de kickboxing, deu-lhe um pontapé na cara. "Da próxima vez que digas isso, rapariga, eu parto-te toda!", gritava enquanto os outros concorrentes o agarravam. Contra todas as expectativas, Sónia não ficou chateada com Marco e desdobrou-se em desculpas. O triste episódio teve direito a abertura de telejornal e culminou com a saída do Marco da casa do Big Brother.
2. Sexo A vida sexual dos concorrentes tornou-se num dos assuntos mais debatidos dentro e fora da casa. No primeiro BB, as aventuras por baixo do edredão de Marco e Marta e de Célia e Telmo ficaram famosas. Mas as conversas que ficaram para a história foram de Célia e Telmo. "Gostastes?", perguntava Telmo, na altura com 23 anos. Ao que Célia, de 18 anos, respondeu: "Gostei". Depois do episódio, a filha de família não tardou a descansar os pais com uma mensagem muito pouco súbtil: "As tropas não entraram no forte."
3. "Massagem" entre amigos O sexo entre concorrentes era comum em todas as temporadas do Big Brother e as brincadeiras sexuais também. Sónia, que dizia falar de sexo como quem fala de iogurtes, até massajou o pénis de Marco em frente a todos os concorrentes. "Queria ver se houvesse alguma tarada que te massajasse isso." E Marco contra-ataca: "Isso é conversa à mais e serviço a menos." Sónia não hesitou e sentou-se ao lado de Marco e massajou-o, por cima da roupa.
4. Quem consegue dar mais erros de português? A língua portuguesa foi uma das grandes vítimas do Big Brother. Na primeira série, Telmo era o responsável pelo maior número de crimes. "Dou-le", "órgias", "não cabeu a carapuça", "prontos", "desalívio", "estroves"... A lista é infidável. Mas o melhor de tudo era Telmo a dar explicações. "Estes jovens de hoje não sabem nada", dizia para Mário quando este lhe perguntou o que significava A/c (ao cuidado). "Então, isso quer dizer A com."
5. Racismo Um jantar de galinha e arroz despoletou a discussão que terminou em insultos racistas e causou um escândalo na imprensa mundial. Jade Goody acusou a indiana Shilpa Shetty, no Big Brother Celebridades, em 2007, de ser uma falsa e mandou-a para a terra dela. A discussão foi transmitida em directo pelo Channel 4, no Reino Unido, e mais tarde descobriu-se que os insultos racistas eram comuns. Em segredo, as outras concorrentes chegavam a dizer coisas como: "É normal os indianos comerem com as mãos." Milhares de cartas de protesto chegaram ao canal e o caso foi até à Câmara dos Comuns. Jade Goddy saiu do programa, e a actriz indiana foi a vencedora. A inglesa arrependeu-se dos comentários, participou no BB indiano e morreu em frente às câmaras, este ano.
6. Ameaça com facas A segunda edição do Big Brother americano, em 2001, causou polémica. Justin Sebik, que estava envolvido com Krista Stegall, decidiu apimentar a relação. Enquanto a beijava, pegou numa faca, encostou-a ao pescoço da concorrente e perguntou: "Ficavas muito zangada se te matasse?" Justin foi expulso e Stegall processou a CBS, que transmitia o programa, porque descobriu que o concorrente tinha sido condenado por assalto em 1997.
7. Pancada no leste O pontapé de Marco não é nada comparado com as cenas de pancadaria que aconteceram nos programas russos e búlgaro. Socos, pontapés, até violência entre mulheres e homens são episódios tão comuns que muitos dos concorrentes riem-se e até quando tentam separar os "lutadores", a violência continua.
8. O primeiro bebé do BB A Dinamarca ficou na história do Big Brother por ser o primeiro país a gerar uma criança filha da televisão. Sissel, de 20, e Robert, de 21, apaixonaram-se no programa e as cenas de sexo não tardaram. Quando a jovem saiu da casa revelou que tinha engravidado no BB.
9. Escândalo sexual Em 2006, o BB australiano viu-se envolvido em graves acusações de abusos sexuais. Enquanto John (nome verdadeiro era Michael Bric) segurava a concorrente Camilla Severi, na cama, Ashley (Michael Cox) esfregava os seus genitais na cara dela. O resultado da "brincadeira" foi a expulsão imediata dos dois e uma enorme contestação ao programa, até do primeiro-ministro australiano, John Howard. "Aqui está uma grande oportunidade para o Canal 10 fazer alguma auto-regulação e tirar este estúpido programa do ar", afirmou o político. Os concorrentes foram investigados pela polícia, mas o caso terminou por aí.
10. Bebedeira e violação Ficou conhecido na África do Sul como "fingergate", um escândalo sexual que envolveu uma alegada violação transmitida pela televisão. Depois de uma noite de copos, Richard Bezuidenhout, de 24 anos, levou Ofunneka Molokwu, de 29, e Tatiana Durao, de 26, para o quarto e terá se aproveitado das jovens quase inconscientes. Richard despiu-as, acariciou-as e abusou de uma delas. A transmissão ao vivo foi interrompida e foram enviados médicos para o local. Vários grupos de direitos das mulheres protestaram e tentaram cancelar o programa, mas as jovens não apresentaram queixa e Richard venceu o programa.
Parecia ter-se encontrado uma fórmula imbatível para conquistar audiências. O Big Brother tinha sexo, intriga, conflitos e alguma violência. Tudo mascarado pelo manto da verdade. "Eu não estou a jogar, sou eu próprio", era a frase mais ouvida. "Era um novo género de televisão. Com que frequência isso acontece na literatura ou na música? Isso atraiu as pessoas, assim como o voyerismo e a capacidade de identificação. As pessoas mediam-se pelo que os concorrentes faziam, quer concordassem ou repudiassem", diz Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão, ao i. Mas a notícia de que o Big Brother (BB) vai acabar no Reino Unido levanta uma questão: o público fartou-se dos reality shows? O Channel 4 não vai renovar o contrato com a Endemol, porque o número de espectadores passou de 10 milhões para 2 milhões.
Em Portugal, o cansaço da telenovela da vida real chegou mais cedo. Tivemos quatro Big Brothers , dois BB famosos e fechamos o ciclo em 2003. "A televisão portuguesa é sui generis. Somos mais conservadores, por isso os nossos BB nunca foram tão chocantes como os internacionais", defende Rui Cádima. Mas João Gobern alerta que se trata de uma moda. "Os reality-shows vão voltar, são apenas umas férias. A televisão passa por modas, esta é mais uma. Mas penso que houve um repúdio por parte dos espectadores de algumas aventuras excessivas." Os reality shows apareceram na televisão europeia há dez anos e mudaram-na para sempre. Houve strips, cenas de sexo, discussões, intrigas e violência. Mas o pior de tudo, diz Gobern, foram as conversas. "O que me assustou mais foi a redução ao nível zero dos diálogos e a falta de valores. Transmitia-se o pior que nós temos. " O iseleccionou dez escândalos que ficaram para a história.
1. Pontapé do Marco A discussão estava acesa. A troca de acusações entre os dois concorrentes do primeiro Big Brother português, Marco e Sónia, não era um momento raro, mas nada fazia prever o que ia acontecer a seguir. Sónia soltou a frase: "Vai para a puta que te pariu." Marco, professor de kickboxing, deu-lhe um pontapé na cara. "Da próxima vez que digas isso, rapariga, eu parto-te toda!", gritava enquanto os outros concorrentes o agarravam. Contra todas as expectativas, Sónia não ficou chateada com Marco e desdobrou-se em desculpas. O triste episódio teve direito a abertura de telejornal e culminou com a saída do Marco da casa do Big Brother.
2. Sexo A vida sexual dos concorrentes tornou-se num dos assuntos mais debatidos dentro e fora da casa. No primeiro BB, as aventuras por baixo do edredão de Marco e Marta e de Célia e Telmo ficaram famosas. Mas as conversas que ficaram para a história foram de Célia e Telmo. "Gostastes?", perguntava Telmo, na altura com 23 anos. Ao que Célia, de 18 anos, respondeu: "Gostei". Depois do episódio, a filha de família não tardou a descansar os pais com uma mensagem muito pouco súbtil: "As tropas não entraram no forte."
3. "Massagem" entre amigos O sexo entre concorrentes era comum em todas as temporadas do Big Brother e as brincadeiras sexuais também. Sónia, que dizia falar de sexo como quem fala de iogurtes, até massajou o pénis de Marco em frente a todos os concorrentes. "Queria ver se houvesse alguma tarada que te massajasse isso." E Marco contra-ataca: "Isso é conversa à mais e serviço a menos." Sónia não hesitou e sentou-se ao lado de Marco e massajou-o, por cima da roupa.
4. Quem consegue dar mais erros de português? A língua portuguesa foi uma das grandes vítimas do Big Brother. Na primeira série, Telmo era o responsável pelo maior número de crimes. "Dou-le", "órgias", "não cabeu a carapuça", "prontos", "desalívio", "estroves"... A lista é infidável. Mas o melhor de tudo era Telmo a dar explicações. "Estes jovens de hoje não sabem nada", dizia para Mário quando este lhe perguntou o que significava A/c (ao cuidado). "Então, isso quer dizer A com."
5. Racismo Um jantar de galinha e arroz despoletou a discussão que terminou em insultos racistas e causou um escândalo na imprensa mundial. Jade Goody acusou a indiana Shilpa Shetty, no Big Brother Celebridades, em 2007, de ser uma falsa e mandou-a para a terra dela. A discussão foi transmitida em directo pelo Channel 4, no Reino Unido, e mais tarde descobriu-se que os insultos racistas eram comuns. Em segredo, as outras concorrentes chegavam a dizer coisas como: "É normal os indianos comerem com as mãos." Milhares de cartas de protesto chegaram ao canal e o caso foi até à Câmara dos Comuns. Jade Goddy saiu do programa, e a actriz indiana foi a vencedora. A inglesa arrependeu-se dos comentários, participou no BB indiano e morreu em frente às câmaras, este ano.
6. Ameaça com facas A segunda edição do Big Brother americano, em 2001, causou polémica. Justin Sebik, que estava envolvido com Krista Stegall, decidiu apimentar a relação. Enquanto a beijava, pegou numa faca, encostou-a ao pescoço da concorrente e perguntou: "Ficavas muito zangada se te matasse?" Justin foi expulso e Stegall processou a CBS, que transmitia o programa, porque descobriu que o concorrente tinha sido condenado por assalto em 1997.
7. Pancada no leste O pontapé de Marco não é nada comparado com as cenas de pancadaria que aconteceram nos programas russos e búlgaro. Socos, pontapés, até violência entre mulheres e homens são episódios tão comuns que muitos dos concorrentes riem-se e até quando tentam separar os "lutadores", a violência continua.
8. O primeiro bebé do BB A Dinamarca ficou na história do Big Brother por ser o primeiro país a gerar uma criança filha da televisão. Sissel, de 20, e Robert, de 21, apaixonaram-se no programa e as cenas de sexo não tardaram. Quando a jovem saiu da casa revelou que tinha engravidado no BB.
9. Escândalo sexual Em 2006, o BB australiano viu-se envolvido em graves acusações de abusos sexuais. Enquanto John (nome verdadeiro era Michael Bric) segurava a concorrente Camilla Severi, na cama, Ashley (Michael Cox) esfregava os seus genitais na cara dela. O resultado da "brincadeira" foi a expulsão imediata dos dois e uma enorme contestação ao programa, até do primeiro-ministro australiano, John Howard. "Aqui está uma grande oportunidade para o Canal 10 fazer alguma auto-regulação e tirar este estúpido programa do ar", afirmou o político. Os concorrentes foram investigados pela polícia, mas o caso terminou por aí.
10. Bebedeira e violação Ficou conhecido na África do Sul como "fingergate", um escândalo sexual que envolveu uma alegada violação transmitida pela televisão. Depois de uma noite de copos, Richard Bezuidenhout, de 24 anos, levou Ofunneka Molokwu, de 29, e Tatiana Durao, de 26, para o quarto e terá se aproveitado das jovens quase inconscientes. Richard despiu-as, acariciou-as e abusou de uma delas. A transmissão ao vivo foi interrompida e foram enviados médicos para o local. Vários grupos de direitos das mulheres protestaram e tentaram cancelar o programa, mas as jovens não apresentaram queixa e Richard venceu o programa.
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